Histórico do Produto

Introdução

A importância da pecuária para o Nordeste tem precedentes históricos (MACEDO, 1952; ARAÚJO, 1988). A criação dos animais domésticos para o fornecimento de componentes indispensáveis ao crescimento e ao desenvolvimento da sociedade nordestina, influenciou decisivamente, participando de vários ciclos econômicos, como fornecedores de carne, leite, couro e animais de trabalho (ARAÚJO FILHO et al. 1995).

Histórico

A caprinocultura e ovinocultura tropical desenvolvidas no Nordeste brasileiro tiveram sua origem com a importação de animais de raças européias trazidas pelos colonizadores. No caso dos caprinos, os primeiros animais chegaram ao Brasil por volta de 1535, através de colonizadores portugueses (BARRETO 1979). As raças caprinas trazidas eram as criadas principalmente em Portugal, mas trouxeram também animais de raças espanholas. A adaptação dos ovinos e, sobretudo, dos caprinos ao ambiente semiárido (que ocupa quase que 70% da região Nordeste do Brasil), fez com que a população de animais aumentasse consideravelmente, transformando o semiárido brasileiro numa das regiões com maior população de caprinos e ovinos no Brasil e no mundo, com quase 14,1 milhões de cabeças (IBGE, 2007). Com isso, a caprinovinocultura passou a ter lugar de destaque como atividade econômica e social do sertanejo, estando inserida na cultura deste povo.

Os caprinos e ovinos trazidos pelos colonizadores passaram ao longo dos anos por um processo de seleção imposto pelos desafios naturais, como a baixa precipitação. pluviométrica, a limitada oferta de forragem e de água (principalmente durante a época seca do ano), a inexistência de práticas de manejo dos animais, assim como a presença de predadores, entre tantos outros. Essa seleção natural deu origem a uma série de raças ou grupos genéticos com características peculiares, a exemplo dos ovinos Rabo Largo; Somalis Brasileira; Bergamácia Brasileira; Morada Nova; Santa Inês; e dos caprinos Canindé; Repartida; Moxotó; Marola; Azul e outros. Os animais destes grupos genéticos e seus mestiços são os que predominam na região, originando a maioria das carcaças produzidas.

Os caprinos e ovinos sempre foram criados de maneira extensiva e, para se adaptarem às condições edafo-climáticas predominantes na região, os animais desenvolveram mecanismos biológicos apropriados, resultando em vários grupos e/ou raças nativas da região. Esta adaptação promoveu uma diminuição da capacidade produtiva dos rebanhos em termos de carne, leite e tamanho corporal.

Apesar da seleção natural ter ocorrido no sentido negativo da produção, o Nordeste possui hoje, para suas condições de semiárido, um material genético de excelente qualidade para produção de pele, carne de baixo teor de gordura e uma adequada produção de leite, desde que seja adotado um nível mínimo de tecnologia. É importante salientar que, com o aumento da frequência e alargamento dos períodos de seca na região, o caprino e o ovino tropical têm apresentado um crescimento maior que os bovinos em várias áreas do semiárido.

A elevada densidade demográfica humana (já que o semiárido brasileiro é considerado o mais populoso de todo o mundo, o que gera uma grande demanda por alimentos), associada à presença de um grande plantel de caprinos e ovinos, contribuiu para que esses animais fossem utilizados como a base alimentar dessas populações, especialmente no. que diz respeito às fontes protéicas.

Nos dias atuais, em muitas comunidades do semiárido brasileiro, a criação de caprinos e ovinos, mesmo que realizada em sua maioria de forma extensiva, é responsável por boa parte da renda e alimentação das famílias.

Para a conservação dos tecidos cárneos, uma vez que o animal abatido apresentava quantidade de carne superior ao consumo da família, era utilizada a salga seguida de secagem, visando mantê-la adequada ao consumo por um período maior de tempo. O processo de salga também teve origem entre os colonizadores portugueses, que já utilizavam tal técnica para conservar produtos cárneos e pescados.

No Brasil, o processo de salga das carnes deu origem ao charque, à carne de sol e a diversos outros produtos cárneos curados nacionais. A carne conservada à base de sal e secagem possibilitou a alimentação dos desbravadores das regiões inabitadas e o povoamento das mesmas. Atualmente, vários desses produtos cárneos conservados com o uso do sal são típicos da região Nordeste do Brasil.

Carne

A pecuária caprina é amplamente difundida em todo o mundo e sua importância pode aumentar no futuro para satisfazer a demanda de alimentos de uma crescente população mundial e a demanda por produtos de qualidade e saudáveis por parte do consumidor (Saccà, Corazzin, Bovolenta, & Piasentier, 2019). O interesse pela carne caprina cresceu nesses últimos anos principalmente em virtude da sua composição, contendo proteínas e lipídios de boa qualidade, sendo considerada uma carne magra (Jia et al., 2021; da Silva Araujo et al., 2021). Em consequência desse crescimento no consumo e comercialização da carne caprina, as exigências do consumidor também se elevaram em relação à qualidade do produto, visando principalmente às suas propriedades nutritivas (Batista et al., 2019).

ZAPATA (1994) afirma que, apesar da oferta e do excelente nível das carnes de caprinos e ovinos, o nível de consumo no Nordeste pode ser classificado como baixo. Isso ocorre devido à qualidade do produto apresentado ao consumidor, o qual é resultado de deficientes critérios de seleção para o abate, da estocagem e comercialização das carnes e do baixo nível de higiene nas operações de abate e comercialização.

Considerações Finais

Caprinos e ovinos, ao longo do tempo, desde os primórdios da colonização brasileira, adaptaram-se às condições do semi-árido nordestino. No entanto, deve-se analisar melhor a importância da caprinovinocultura, considerando, por um lado, a sua função de importante fonte de alimento (as carnes caprina e ovina são as principais fontes de proteínas da área rural, a pele é de excelente qualidade e o leite tem alto valor nutritivo) e, por outro lado, o destacado papel social dessa atividade, gerando renda para as populações rurais e possibilitando permanência e sobrevivência do sertanejo em suas glebas, ou seja, a fixação do homem ao campo.

Referências

COSTA, R. G.; MADRUGA, M. S.; MEDEIROS, G. R. de; VOLTOLINI, T. V.; DUARTE, T. F.; PEDROSA, N. de A. Manta de Petrolina: uma alternativa para agregar valor às carnes caprina e ovina. Campina Grande: INSA; Petrolina: Embrapa Semiárido, 2010.

GUIMARÃES, C.F; BORGES, J.H; NOGUEIRA M.D. Situação atual e perspectivas da caprinocultura, no vale do São Francisco. SNPA, Petrolina-PE, 2006.

SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES, 5.,. Anais: Sociedade Nordestina de Produção Animal. Salvador, 1994.

OLIVEIRA, M.E. et. al...VOLUME I — Ruminantes e não ruminantes. SNP, Teresina - PI, 2000.